PERCA DE TEMPO

A minha vida, por todo o tempo, passou despercebida.
O céu blindado, e as nuvens dissecadas, a terra sucumbida
Caindo em mares de pedras, vi trincar-se
Triplicar-se em minhas mãos as provas do tempo; o tempo trincado.
Perdido em si, em meus lábios, rachados
Em meus olhos, inchados
Em minha voz, estremecida, não mais profana
Não mais proclama, nem mais uma vez reclama
A última vez, mas ainda assim; o tempo.
Sarcástico, olha para trás, gargalha sedento.
Esquece quem somos; ele se desfaz.
E as marcas, ainda satisfaz
Há um sonho de uma noite nunca dormida por detrás de nossas memórias
Que cambaleou aos ares, junto aos ventos dos mares
Que sucumbiu à terra, sobre as poeiras, encerra
Que reerguera-se, através de velhos beijos
Apodrecidos, de lábios feridos
Na tentativa de lembrar os perigos, os sorrisos e felizes histórias
E nada mais, além de velhos cinzentos lampejos de memórias frias.
E os olhos, e a boca, e os ouvidos
E minhas mãos que firme seguram um restante de vida
Vi e me lembrei; pensei em você!
Mas já faz tempo, sabe que o tempo não passa; para
Para mim, como para o tempo?
Parado há décadas e agora o meu mundo já começou a estremecer
O carro, o piso, o passo, ao acaso sem temer
Faço, vejo, sinto o mundo sem se desprender
Ignoro os dias, vejo a hora parar sem me preocupar
Ao relento desta noite deixo apenas o tempo se locomover
E quando à realidade retornar, não mais irei voltar
Por favor: um último desejo a este velho não queira negar
Diga ao mundo somente que longe vou estar
E com o tempo, para sempre festejar.



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